terça-feira, 8 de novembro de 2011

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"Milagre é quando tudo conspira contra, mas Deus vem de mansinho e com um sopro leve muda o rumo dos ventos. Milagre é quando o incerto nos abraça depois de nos atingir cruelmente com sua fúria. É quando respirar vira quase um suspiro de alívio e a vida devolve o sorriso como forma de retribuição por todo sofrimento. É o instante teimoso que resiste bravamente a um duro percurso e mantém-se em pé amparado pela força divina. É a decisão que escapa de nossas mãos, mas que antes de cair agarra-se com toda força a uma segunda chance. Milagre é o improvável gesto de carinho que impulsiona o ser humano a não deixar de acreditar."
(Fernanda Gaona)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Despi-me e dispus-me

à essência;
ao por vir;
aos pormenores
maiores



"se deixou levar por sua convicção de que os seres humanos não nascem para sempre no dia em que as mães os dão à luz, e sim que a vida os obriga outra vez e muitas vezes a se parirem a si mesmos."
(Gabriel García Marquez em 'O amor nos tempos do cólera')

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Compasso



É só começar, vai. As coisas vão tomando forma quando você busca manter um olhar aguçado para o sol as 6h da manhã, sem reclamações desprezíveis. Acredite: desprezíveis. Está fragmentado, eu sei. O receio, o gesto, o quase bom-dia, a reza, o que te mantém de pé. Mas espero que após juntar todos esses pedacinhos, um em cada compartimento do que você chama de moradia, tenhas um coração completo. Sim, completo, depois de filtrado. Com cores e formas, pronto para viver o que acontecerá agora, daqui há um minuto que já se foi. Pronto para dá o primeiro passo, o segundo e assim por diante, depois de tantos já ultrapassados. Saiba: você não é o único nisso.
Grito. Tenho direito à voz. Tenho direito à vez. Ainda que meu grito seja silenciado pelas buzinas e minha vez seja perdida por alguém que furou a fila. Aprendi que paciência é a chave de uma respiração aliviada quando o ar está pesado. Tanta coisa já não me cabe dentro, aliás, nunca couberam. Acredito que na procura de um espelho, encontrei vidraças velhas que mostraram friamente, de fato, meu reflexo. Em cortes. Recortes de feridas e idas, outras voltas. Hoje, dançando em outros compassos. Num passo de cada vez.
O que não cessa está do lado de cá. Do lado de uma postura que dispensa formalidades baratas que só cabem na "burguesia decadente", como diria Edu, nas escrituras do querido amigo Caio Fernando.
Para mim não importam em quantos pedaços as coisas se fragmentam, o que prende mais minha atenção é o que fará com que todas essas partes se juntem novamente. A força capaz de transformá-las em pequenos universos, agregando tudo o que tem amor na composição e jogando fora as utopias que não cabem num coração de criança.
Junta tudo o que te cabe. Desarme-se do que é faz de conta.
Hoje escolhi ser assim, escrever desse jeito, silenciar naquela hora que foi difícil engolir a prosa-presa e chorar quando digo que não tenho motivo para isso. Mas mesmo com um coração bobo e desajeitado, não quero mais fingir que não o escuto. Foi-se o tempo.
E por falar em tempo, o calendário ainda diz ser primavera...Sei que quando esses dias terminarem, meu estoque de tulipas-margaridas-lírios-e-bem-me-quer, estará pronto pra suportar qualquer gota cristalizada por causa do frio, vindo de dentro.
Avanço. Mesmo que às vezes fique perdida no pensamento de saber se no próximo passo vou alçar vôo ou machucar as asas.
Avanço. Mesmo afirmando que às vezes não conseguirei dar conta disso. E quando esse tipo de ideia vem ao meu encontro é quando caio em mim e sinto que hoje eu sei o que seguir. Na contradição de: ainda que indo sem saber para onde.
Pronta para ver o sol raiar.

Raiou ,

sábado, 8 de outubro de 2011

Burilando

Burilar: Fig. Trabalhar qualquer coisa com cuidado; [re]tocar.

" E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo e não o outro, encurtoso." (João Guimarães Rosa)


A tensão no mundo concreto não balança as folhas da laranjeira em meu quintal. Elas são bonitas mas não são bobas não. Dançam pro vento e lá se vai perfume a quem quiser...Balançam quando algumas folhas avisam que vão embora, porque é chegada a hora. De renascer. Todas elas, as que ficam e as que vão, sabem das razões para retribuir a gentileza do sol e da chuva [revelando crescimento]. Entre ambos: arco-íris. Pra não esquecer do meio, sabe. Do antes de. Do quase lá. Aos pouquinhos, certezas benfeitoras agarram-se nas raízes de um solo fértil, mais que útil. E mostra que raíz não vem como prisão, mas sustento do que nasceu quando você menos esperou e do que há de vir. Aprendi a pisar no chão descalça pra sentir areia entre os dedos, mas aprendi também a não limitar meus olhos com material corrompido.
Vai tão mais longe.. É tão mais perto..
Céu azul, sem dúvida, é um bom amigo da laranjeira no quintal de dentro de mim. De dentro de nós.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

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"O que se perde enquanto os olhos piscam?"


"São Longuinho, são Longuinho
Me fale me dê um sinal!
São Longuinho, são Longuinho
Pra onde foi?
A coragem do meu coração!"

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Luzir

"Não me furto a certeza:
És a Vida que eu quero." (Palavrantiga)


Perguntei a mim mesma o que eu via alí dentro para fazer-me sorrir assim.
Obtive respostas imediatas.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Apenas


Tinha a mudez como companhia
E vestia-se de poesia para o
Cotidiano não aniquilar
Seu viver pulsante
Era verso preso
E solto dentro dela
E solto onde quisesse
Longe de ser cenário
Era o mundo que ela mais amava

sexta-feira, 16 de setembro de 2011



Ela se esforçava ao máximo para deixar tudo fluir, todas aquelas coisas que lhe garantiam segurança e guardavam boa parte dela. O seu caminhar estava diferente, assim como suas observações interiores. Parecia que tudo em volta ganhava novas formas, novos motivos, porque ela se exigia cada vez mais e seus critérios subjetivos (de escolher o que queria para si) nos olhares e em cada gesto feito, ficavam mais rigorosos - disciplina necessária quando se trata em elevar sua alma para vigiar a ordem de seus pensamentos.
Até o chá de qualquer hora e de qualquer sabor, não era mais feito de qualquer maneira. Ela aprendeu com seus novos olhos, que até os minutos gastos desde sua vontade em fazer um simples chá até o armário de madeira na cozinha, precisariam de nobreza para não se deixar levar por pensamentos que sempre vêm ao nosso encontro quando nos distraimos ou não nos importamos com a vigilância.
De certa forma, essas loucuras sãs contribuiam para o afastamento das pessoas (ditas comuns) que não se interessavam por aquilo que prendia a atenção dela, mas isso nunca a incomodou. Porque aprendeu a viver um mundo que lhe fazia brotar sorrisos na alma; sorrisos não perecíveis. E quando alguém quer ter sua companhia, é porque o sentido de pequenas coisas ainda importa. - venhamos e convenhamos, para o mundo ela se tornava mais uma sem-graça. Mas para Deus, ela começava a brilhar um pouquinho mais...
As miudezas, outrora dispercebidas à sua volta, eram cada vez mais nítidas no ambiente. E ela só se deu conta disso, quando passou a apreciar os silêncios ao invéz de barulhos que lhe agrediam; a conversar com Deus porque sentia que só Ele conhecia a fundo um coração bobo e cheio de amor; a estender a mão para ajudar e não para aprisionar uma alma. Por vezes era difícil seguir assim, mas sabia que seu coração tinha feito a escolha certa.
As coisas [in]visíveis prendem mesmo sua atenção, mas elas não vivem isoladas, imunes a tudo. Por isso, depois de uma reforma íntima lapidada em silêncio todos os dias, aprendeu que unhas e dentes não é a melhor forma de lutar, mas sim, vestir-se de e muito, muito amor.
Tudo em volta parece quieto quando a alma se aserena e a visão de mundo ganha amplidão...ganha sentido.


"Conhece-te a ti mesmo, ó linhagem divina vestida com trajes  mortais."
(Marsilio Ficino)

chá verde numa caneca do projeto T'amar ;

domingo, 4 de setembro de 2011

Relevância




Doces plumas
esmagam
o deletério
Uma alma
em deleite
que se lambuza
na lama
feita
de sonhos
Onde a poesia
tudo fala
E o tudo
está em mim
Um
mim
maior


ouço som de passarinho vindo do pergolado,
deve tá rindo de mim pelo cabelo assanhado.

Que sejamos doce ,

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

To remind me who You are



Ela entrou na sala e desajeitadamente procurou um lugar que aceitasse os seus critérios naquele instante, mas o ar lá dentro não acalmou sua respiração. Talvez porque o espaço entre as quatro paredes não fosse suficiente pra caber tantos pensamentos ou talvez porque ela tinha um certo "vácuo do coração que passa como um estranho por entre os prazeres que o cercam", como diria o amigo Alencar.
Na parede, o projetor mostrava um documentário a respeito de luz em cenas; técnicas de fotografias e muitos detalhes sobre iluminação. O escuro na sala era preciso para melhor captação das imagens (de quem assistia). Mas fugindo do conceito técnico, corrí pro sentido figurativo daquela aula, e alí eu não queria mais fazer parte, porque eu não via nada e meus olhos careciam outro tipo de luz.
Em silêncio, alguns passos longos e apressados até o estacionamento. Carros, buzinas, semáforos e mais coisas do tipo separavam o meu "eu" de "onde quero estar".
- minutos passam -
Sozinha, em silêncio, de dentro do carro, observei aquele lugar que hà anos me acolhe feito uma mãe quando acaba de ver a queda da filha na calçada. Respiração forte e cobertor na alma, passei a noite entre Anjos que abraçam e não prendem; que sorriem e nada cobram. Uns eu enxergava com os olhos da matéria, outros apenas com o coração, porque a carne já não importava. Não era mais o peso de uma energia, mas o transportar de uma vibração para seu estado mais  l e v e.
Entre preces e confortantes palavras acredito mais ainda que está sim, em nossas mãos, a cura que necessitamos. É o não acomodar o que lhe incomoda e sorrir para o que liberta e não para um punhal em disfarces. E assim, devagarzinho, em meio à aulas de iluminação, semáforos e pessoas - nunca intransponíveis - aprendo que meu maior comprometimento é com Deus e a paz dentro de sí mesmo é o tesouro mais reluzente que alguém pode ter.
O coração é o "onde quero estar" mais puro que senti até hoje.

L u z   ,

Sociedade Espírita Casa do Caminho/ terça-feira/ 18h30min
Conversa com Sérgio..."silenciar nas horas mais dolorosas"
Binha, Quél e Jr. (surpresa boa!)
 Saudade do pai mais lindo do mundo (tô te esperando, meu amor!)
.' You fill me , You see me ..'

sábado, 20 de agosto de 2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Intermédio



Entre uma agonia mental e a vontade de estar perto sem estar, vem a necessidade de abrandar pensamentos corriqueiros;
Entre um passo e outro, a queda grita que veio só de passagem e que leva o medo consigo; (agradeço)
Entre a mão pensante no queixo e o barulho da chaleira na cozinha, dez passos até o sachê do chá que mais aprecio, me avisa o quanto às vezes demoro pra satisfazer vontades tão genuínas;
Entre a preguiça na rede e o atraso dos cadernos, percebo pelo que devo jogar ao vento e o que devo reter em mim;
Entre frases desfeitas e desacatos à Maior das Leis, renasce um Eu sempre tão necessitado de Ti;
Entre um riso aberto e aquele que procura se esconder na primeira brecha, ela luta para não escorregar no calabouço de uma mente fraca;
Entre um olhar de relance e aquele que permanece, o coração escolhe minuciosamente o que quer enxergar;
Entre a pressa do lado de lá e o mecanismo das horas, ela lembra de respirar e vive o seu próprio tempo:
O tempo que lhe cabe.

Beijos na alma.
Que seja doce ,

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Esvoaçar-se


É um olhar manso, pra lá do telhado, em comunhão com litros e litros de tinta azul que derramaram naquele infinito. Os pés levitam, porque buscando se alimentar a todo custo de uma leveza  cristalizada, o peso retido no chão certamente não é uma coisa muito convidativa ao seu riso mais risonho..
Entre calos e tropeços, os pés dela ganharam asas.

Claves de sol a iluminar um coração,
às vezes apertadinho,
mas que olha para o céu e agradece.

(f)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

go


Só percebi que não dava conta quando entendí, nas oscilações das horas, que não se pode cobrar aquilo que você não dispõe. Não é questão de apaziguar almas somente porque foi chato a frieza do vazio, quando a única vontade era sorrir, mas a necessidade de pegar um remo e dizer a si mesmo que não ficará à deriva. Por outro não, por você. Até onde eu aprendí, isso era um tipo de auto-conhecimento. Longe de egoísmo, é questão de acreditar em sí ou não. Escolher brisa, mesmo tendo que andar contra o vento. E não deixar que suas verdades sejam apagadas diante das demais que te observam.
"Aponta pra fé e rema.."

Em dia de trânsito lento - em mim - é quando mais presto atenção nos retrovisores.

Afagos na alma ..

terça-feira, 26 de julho de 2011

bem-me-quer



E cá estou eu, dessa vez pra contar a satisfação de minhas mãos ao colherem, logo cedinho, um bocado de tulipas adocicadas. Me perguntaram quantos mal-me-quer tem numa flor. E minha resposta foi silenciada pela insistente lembrança das tais tulipas que enfeitavam meus passos lentos. Quando resolvi agoar o bom do amor e soprar bem forte o tanto de mal-me-quer (que eu nunca quis), a flor que me acolhia toda manhã passou a ter apenas bem-me-quer. Enquanto ao resto, sei que o vento sempre faz um bom trabalho.

Sorri tranquila no meio de um campo que brota flores em compota.

Um beijo,
com açúcar e afeto.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

De onde vem a calma?



Sempre tive a plena convicção de que alguém ouvia o eco de minha voz por detrás das montanhas. Eu sei o que enfeita aquele lugar sonhado, e devo confessar às roseiras cintilantes que elas nunca precisaram de esforços doentios para serem tão puramente lindas, tal o motivo de tanta admiração minha.
Ontem ouví prantos da minha metade exausta. Sentí como se estivesse sendo arrancada sem dó nem piedade de um lugar santo e presenteada com vendas sobre os meus olhos. Um ontem distante, [desapegado].
Minha maior satisfação em tudo isso é a certeza pulsante de que toda resistência mantida por algo nobre, sempre valerá à pena. Isso é uma questão entre você e mais ninguém. Não é constante meu riso feliz, mas a força de dentro que me mantém de pé, sim. Percebo pelo o que devo brilhar e as renúncias estritamente necessárias, porque me ensinaram que nem tudo o que brilha é ouro. [palavras muito bem acolhidas]
Desejo que em todas as manhãs (cinzas ou lilases) eu possa escolher sorrir pelo imperecível e manter a constância que tanto me sustenta. Têm muitos cravos antes das roseiras e algumas rochas na estrada que dá para o vale depois das montanhas, mas quem disse que seria fácil? Ciclo compensatório.
A força que me mantém de pé é a mesma que diz para eu mandar embora tudo o que me corrói lentamente. Uma pequena diferença entre você sofrer com e sem Deus, é que com Ele a tristeza vem, ronda seu lar, mas quando vai embora ela não te rouba nada.

"Eu não vou mudar não
Eu vou ficar sim
Mesmo se for só
Não vou ceder
Deus vai dar aval sim
O mal vai ter fim
E no final assim calado
Eu sei que vou ser coroado
Rei de mim..."
(Marcelo Camelo)

sábado, 2 de julho de 2011

Frequência


Seu olhar fixo em algum objeto do quarto era o mesmo que lhe revelava a distância de coisas efêmeras, entre ela e ela mesma.
De tão real, a luz se tornou palpável.
Muito mais que certezas: hoje ela sabe o que não quer mais em sua gaveta, mesmo na dúvida se sorrir para a cor ou para canção.
A moça se conhecia.

[dorme medo meu.
cura Senhor, onde eu não posso ir]

 pensamento cheirando a Caicó;
três dedos de água gelada;
esperando o pai lindo chegar de viagem;
unhas vermelhas para afrontar o cinza que às vezes paira.

terça-feira, 28 de junho de 2011

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"E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção." (Vinícius de Moraes)



Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca, porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado. E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim, no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo. E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro. E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.
E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.

(Vinícius de Moraes - Para uma menina com uma flor)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um lugar gigante


pés frios. cores opacas.

O banco de madeira fica aqui nesse jardim em todas as estações. Foi tão bem construído, tão bem firmado, que nenhuma ventania ou algum tipo de tempo, se atrevem a destruir ou envelhecê-lo. Tentam, mas o banco é forte. Tem dias que você o vê entre um olhar e outro, mas me entristece ao perceber que foram apenas olhares de relance, porque minha vontade era só sentar e conversar mais um pouco. Um pouco sem fim. Mas logo você partiu novamente. Nem me atreví em dizer tchau acenando com as mãos, porque você sabe bem, que elas têm outro sentido, e nem ficam bravas quando as apertamos com toda força do mundo. Foram feitas como acalento: "eu sempre vou estar aqui."
Quando é primavera e as cores saem tomando conta de tudo, o banco aproveita pra sorrir junto com as margaridas. Mas hoje (sem saber ao certo a estação), ele está vazio. Mas é só por hoje. Só às vezes. Vezes de colapsos temporais. Entenda, isso tudo é pra dizer que essa solidão não passa de impressão boba que nunca altera o belo inefável. Sei lá, o coração teimoso tendessascoisas. - Ágape é soberania -
Digo que é no silêncio que me encontro. Mas tem silêncio em algum canto impedindo o florescer desse jardim. Tem silêncio com espinho machucando nossas hands of light...
Mãos de quê? de Luz!
Sim, de luz.
Uma luz que não produz sombras.

Voa com as asas que escolheres, passarinho.
Mas lembre sempre de voltar sereno pra pousar no mesmo banco acolhedor.
E aninhar... essa Ninha.

v e r m e l h o  e  l i l á s ,
é sempre assim que acaba. (e começa um novo dia)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sobre ela



A menina de olhos castanhos amendoados e cabelos compridos, gosta de livros viajantes e grifa trechos das palavras que roubou para si; mexe os pés pra dormir e quando adormece, fica sonhando coisas bonitas porque pediu a Ele pra não ter pesadelos; troca uma balada pra assistir (de cobertor e três controles remotos ao alcance das mãos) o filme que, sem dúvida, lhe fará chorar, porque ela é uma verdadeira manteiga derretida; gosta de acordar cedo e caminhar até as pernas reclamarem; observa bastante os outros quando estão distraidos e canta sem voz aquele trecho de música que diz que é pra ter força e que a estrada vai além do que se vê; tem o lápis e o papel como amigos indispensáveis na  vida; adora tomar chá sem açúcar; não tem nenhuma rede social, porque num ataque de nervos resolveu fazer um teste de quem são seus amigos fora do computador; tem um passarinho azul chamado Leôncio, tão subliminar quanto as fotografias que gosta; procura pensar do seu jeito e faz coisas que alimente sua alma, e dentre tantas, a primeira delas é retribuir tudo com amor. Amor nas palavras, nos sorrisos, no que vê. Porque amar, é a tarefa mais linda e compensatória que Alguém lhe ensinou. Essa menina sorri, mas também cansa de falsas promessas.

uma queda.
mãos limpam os joelhos após levantar.
um passo, um passo, uma pausa.
outro passo novamente.

Que seja doce,

terça-feira, 14 de junho de 2011

Arbítrio



Que o olhar que se encanta com pequeninas coisas nunca me diga adeus. Que as notas musicais mais doces sejam absorvidas não só em audição, mas ecoadas por toda parte em mim (pulmões enchendo-se de ar curador...). Que eu não dê bola praqueles ignorantes, prodígios da superficialidade. Que eu tenha mansuetude para polvilhar um ambiente que careça calmaria (principalmente minha morada interior...). Que em todos os passos, eu tenha Deus como guia e o amor como remédio para qualquer mal.  Que as cores sejam sempre vivas, as maçãs sempre doces, os livros indispensáveis e os balões cheinhos de sopros genuínos. Que eu queira sol quando a tempestade desejar me envolver. Que meu sofrimento seja resignado. Que eu saiba que nunca estarei sozinha. Que o brilho que eu carregue não seja das roupas. Que a Lei de Talião não more em mim, porque eu sei que também erra aquele que revida. Que o egoísmo seja nada. Que mãos dadas seja tudo. Que a carência seja de coisas imperecíveis. Que a fé seja meu sustentáculo. Que a poesia se faça oração ,

"Mais uma vez Sofia tentava pensar por si mesma
 e não usar o que tinha aprendido com outras pessoas."
 (O Mundo de Sofia - página 53)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

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' eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
(...) caminho em frente por sentir vontade ..

eu quis te convencer mas chega de insistir
caberá ao nosso amor o que há de vir
(...) caminho em frente pra sentir saudade ..

                                                       (...) . clipes e
                                                                      lápis de cor
                                                                             na minha cama . '

(Janta - Marcelo Camelo)
recomendo:
para satisfazer o coração com os olhos e desfazer as amarras do preconceito, taí o curta-metragem: "Não quero voltar sozinho".
para alegrar os ouvidos com música rara: "Janta", de Marcelo Camelo. (trilha sonora do curta).

bons pensamentos :*

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Fluir


Eu quis não sentir. Eu quis não importar.
Desejei um abrigo fora, mas nenhum dos tais me agradaram; tampouco me acolheram como eu (ilusoriamente) pensei.
Quis tanta coisa por um breve minuto e demolí tudo depois de um respirar mais profundo...consciente.
Parte do que eu vejo não está (definitivamente) em comunhão com o que preciso. Taí uma explicação cabível.
É bela e gentil a aproximação de duas ou mais partes, por simples vontade do espírito.
É feio e repelível aquele "estar alí" por puro comodismo, conveniência ou pressão.
Comunhão fiel e incansável é aquela que quando olho pro céu, reflete todos os meus sonhos e os acolhe sem nenhum esforço... Tudo f l u i, como tem que ser.
Seres humanóides às vezes me cansam, deveras.
Quero é me esquivar de imposições e dizer sim, para aquilo que vem por vontade própria.
Por simplesmente querer ficar.
Por não carecer de explicações a outrem.
Não se engane:  o "outrem" não sabe um terço do que realmente te faz respirar.

*Caladinha, sentindo cheiro de livro novo e despedindo de tudo o que me atrasa.
Porque só eu sei do peso de cada carga em minhas costas.

Hoje quando procurei um abrigo, um bloco de papel sorriu pra mim.

"Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas me convém.
Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas me edificam."
 (l Coríntios, 10:23)

sábado, 4 de junho de 2011

E seguiu



Viu que as asas estavam machucadas, mas quis voar mesmo assim.
Colocou remédio nas feridas e seguiu.
Aprendeu que, para voar da maneira que ela desejava todos os dias,
só bastava ter asas do lado de dentro.
E nem se importou mais com aquelas feridas bobas nas asas de mentirinha.
Agora que ela tinha o band-aid certo, simplificou tudo e foi conhecer o mundo que havia dentro de sí.
Voando...como sempre quis.

um fim de semana cheio de luz e um beijo de boa noite :)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

o'clock


Naquele dia somente os afagos sobreviveram.
[sem artifícios, assim eu pensei].
E como para tudo o que anoitece, lá vem o sol devolver porções de luz em potes transparentes ..
Só basta você consentir ou não.

"Tudo tem o seu tempo determinado,
 e há tempo para todo o propósito debaixo do céu." (Ecl 3:1)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Sê pássaro

Que a verdade se firme na alma e não nos errôneos olhos da matéria.


Para serem ditas e para serem silenciadas também. As palavras contidas entre o barulho dos carros e o pulsar de um coração sonhador sempre estiveram no topo da minha seleção. São aquelas que os ouvidos escolheram absorver, obedecendo os pedidos da alma. Como já disse, acredito que o silêncio nunca foi mudo, porque quando mais precisei de respostas, foi ele quem me abraçou. Quando quero ver a alma que eu guardo, fecho os olhos e as palavras sonoras não me valem muita coisa. Existe som dentro de mim e essas palavras gostam de se embaraçar nele. Juntos, formamos um mundo um tanto estranho aos olhos de fora, mas é justamente esse o objetivo: acomodar coisas de dentro que nunca precisaram ser palpáveis para se tornar verdade, e mostrar, em silêncio, a esse mundo aí, dito "realidade" que a necessidade mais linda que uma alma tem, está dentro dela mesma. E ela respira sem sufoco. Vamos caminhando para algum lugar que tenha passarinho sussurrando, nos dizendo que bom mesmo é voar. Mandar embora palavras estranhas ao coração e ver luz no silêncio dos olhos que nos envolvem puramente. Eles conversam comigo.
Tantas forças nossas mãos dispensam. Tantos ninhos desfeitos por pura teimosia, ou porque alguém disse que o melhor a ser feito era assim. - não, não quero levar isso pra nenhum lugar - Quero somente sentir meu coração bater por motivos que o agradam. Porque sei que a vontade dele anda de mãos dadas com desejos genuinos e empoeirados com milhares de violetas. Isso me faz sorrir.
Bem longe do agrado de uma dita "realidade", mas muito perto de mim.

Sinto uma vontade tamanha de dá lugar aos ninhos - não desfeitos -
De abraçar - com coração aberto -
De viver os sonhos - afofando nuvens -
E dizer algumas palavras - em silêncio -
Sê pássaro ,
Ide para teu mundo mais leve.

"Não ajunteis tesouros na Terra, onde a ferrugem e os vermes os corroem; onde os ladrões o desenterram e roubam; mas formai tesouros no céu, onde nem a ferrugem nem os vermes os corroem; porque onde está o vosso tesouro, aí também está o vosso coração." (Mateus - 6:19)

-


"As circunstâncias entre as quais você vive determinam a sua reputação. A verdade em que você acredita determina o seu caráter.(...)A reputação é o que você tem quando chega a uma comunidade nova. O caráter é o que você tem quando vai embora. A reputação é feita em um momento. O caráter é construido em uma vida inteira. A reputação torna você rico ou pobre. O caráter torna você feliz ou infeliz. A reputação é o que os homens dizem de você junto à sua sepultura. O caráter é o que os anjos dizem de você diante de Deus."  (Arnaldo Jabor)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Manter

...aquele velho abraço, sorriso na cara e os reais motivos.


Tava eu aqui com meus botões: "há tantos dias quero escrever alguma coisa, mesmo sem relevância sabe, só pra transformar algum sentimento em palavras sólidas." Mas não me senti motivada pra pegar algum lápis ou fazer parceria aqui com esse teclado, que agora está polvilhado com alguns farelos de bolacha.
Uma ligação. Poucos minutos. Duas pessoas do outro lado e uma saudade gigante. Mas antes de estarem do outro lado, estão aqui dentro, do lado de cá. Valor incontestável.
Eu cá com meus botões novamente: "acho que vou escrever".
- vai ver eu estava mesmo esperando por isso.. -
Queria escrever coisa bonita, sabe. Mas coisa bonita não liga pra isso não, bom mesmo é sentir. E eu sinto vontade de abraçá-las.
Quatro minutos e uma vida pulsante.
Que tipo de papel, computador ou celular traduziriam isso? Nenhum.
Afeto a gente carrega sim, na mochila da Vida.
E porque cativou, somos responsáveis. Nobres palavras da raposa ao pequeno príncipe.
Desconheço ladrão que tem poder de roubar esse tesouro. Ah...não tem mesmo.
Duas flores.
Uma, quando aos doze anos de idade me fez ver em sala de aula, o lindo coração que ela carregava, a algumas carteiras de distância. A outra, quando me fez descobrir a beleza que existem nas flores em forma de animais. Um timbu diferente de todos os outros já vistos.
Tenho mesmo é que agradecer a Deus por enfeitar meu caminho pedregozo.
Por me dar força de tirar as pedras e perceber singelas flores que sorriem pra mim. E sei que permanecerão sempre, por causa daquele tal afeto que muitos ouvem falar e poucos se encorajam em tê-los. A gente não é covarde a tal ponto.
Prometo sim, dentre meu abraço, muitos sorrisos contidos nos silêncios e nas bagunças.

Pra mim, eis um motivo nobre: O que fica, não é cerveja.
- que não morram as entrelinhas -

 Um beijo, Di e Bah.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

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coração-que-cabe-esta-oração

.. e n c a n t a d o r
Peguei quando fui costurar estrelas com a Noe.
um beijo na alma ,

Amuleto


Quando bate aquela vontade de gritar, escrevo. Assim como quem não quer nada. E vou esparramando no papel, seja ele em branco ou já rabiscado, feito aquarela...cores, letras e ninhos, bem forrados. O que eu não quero é entris[tecer] minha alma e acabar escrevendo aquilo que eu nunca me diria (pelo menos não nos dias de hoje, depois de muito aprender). O que eu mais quero, é deleite...O que eu mais quero está contido no silêncio e beleza da primavera. Tempo de goiabeira pronta pra fazer doce em compota e ser feliz. Tudo tem cor. E peço a Deus que nunca me prive de vê-las, que minha coloração nunca seja esquecida. Desejo gritar, e calar logo em seguida. Da forma que eu sei fazer. Da forma singela que abraça minha alma e serve um café com bolo quentinho, só esperando o papo de uma palavra e meia. - porque falar muito me cansa - Da forma que apazigua meu espírito e pede pra que eu pare de choramingar pelos cantos da casa. Da forma que me sinto completa, e todas as outras coisas nem existem mais...
Que eu nunca coloque o silêncio apenas como enfeite ou admiração, mas que ele revista minha essência e seja resposta para tantas explicações desnecessárias. - o silêncio nunca foi mudo - Que eu nunca esqueça onde colocar meu coração e  sobretudo, saber que quando me sinto mais sozinha, é que estou acompanhada.
Minha mente acalma, porque antes de levantar, bem cedinho, eu rezei. Só porque vem um passarinho todos os dias me inspirar a respirar. Ele é meu amigo. E habita em minha morada, assim, quando estou bem mansinha e com as mãos juntas, perto do queixo.
Fecho os olhos , 

domingo, 15 de maio de 2011

I know, God.


Em meio ao frio e atenção voltada para o trabalho da faculdade, curti o dia tomando chocolate quente e pés cobertos por meias, também quentes, e listradas.
Aproveitei à beça, mesmo esses objetos integrantes sendo curtidos apenas por pensamento, junto com Emília. Aquela pessoa da alma, sorriso sincero e olhar reluzente. Eu sei.
Se não tem, inventa.
Seja lá o que for.
Abraço fofo de travesseiro, pote de beijo, flores flutuantes, cobertor que consola, travesseiro que guarda seus segredos, bom pensamento que te faça forte feito rocha e um ou dois sorrisos oscilantes no canto da boca, só por ter visto uma imagem bonita ou uma frase coberta dos bons sentimentos.
Ele não disse que me privaria das dores nem das lágrimas que caem feito chuva, mas me deu o Seu amor para eu ter em que acreditar; o Infinito para eu ampliar a forma com que caminho e verdadeiros motivos que me movem. Eu sei.
Gosto de inventar.
E que essas invenções sejam compostas de pureza e simplicidade, assim como as flores flutuantes, o chocolate quente e as meias listradas de hoje.
Simplesmente por ter que escolher entre colocar a cabeça no travesseiro e me entregar ao que martiriza e faz doer, ou àquilo que respiro mansamente e me faz ficar de pé. São escolhas.
Eu sei.
Que o amanhã resulta das ervas daninhas ou das flores que escolhi plantar hoje.
E mais que saber,
Sentir.
Que em meio as amarguras, existe o bálsamo que consola.

Põe na mala somente o que você necessita e caminha ...

M i u d e z a s , em mim.

um afago,

quarta-feira, 11 de maio de 2011

No papel


"Alguns escrevem pela arte, pela linguagem, pela literatura. Esses, sim, são os bons. Eu só escrevo pra fazer afagos. E porque eu tinha de encontrar um jeito de alongar os braços. E estreitar distâncias. E encontrar os pássaros: há muitas distâncias em mim (e uma enorme timidez). Uns escrevem grandes obras. Eu só escrevo bilhetes para escondê-los, com todo cuidado, embaixo das portas."  (Rita Apoena)


Escrever pra sentir que dói menos.
E deleitar-me em espaços brancos que me curam ..
d e s v a n e i o
Lavo o rosto em água transparente,
Friltrando poeiras maléficas. 
Escrever me muda.
Não me cala.

terça-feira, 10 de maio de 2011

In


"Só mesmo a beleza das coisas simples para nos livrar da frieza das coisas mornas." (Priscila Rôde)

Hoje eu desejo a mim e a quem quiser,
uma música de flauta doce, bem doce.
.. pra sorrir sereno e sentir mais pureza que fel.
Assim seja.

l u z
e
c o r e s

domingo, 8 de maio de 2011

Libertarde

"Passava os dias alí, quieto, no meio das coisas miúdas.
E me encantei." (Manoel de Barros)


Dois pássaros na grama, três cores de outono quebrando o verde e o nascer de um pensamento já atrasado: "Por pensar demais, preferi não pensar demais dessa vez."
A princípio, sentí como se fosse preciso trancar o cadeado. Confesso que inutilmente tentei fazer isso, só que para minha surpresa ele emperrou, olhou-me fixamente e questionou: se você perder a chave?
Fiquei vagando em meus pensamentos, mas prometi no início das palavras - na companhia de pássaros e cores amarronzadas - que não pensaria demais dessa vez. Deixei isso pra lá e permiti que outros fluidos me conduzissem pra cantos com cheiro de terra molhada.
É, realmente a gente nunca sabe quais coisas vão embora - nunca em boa hora - e quais chegarão.
.. desejo que tudo o que fique, seja suficiente para que possa levantar e dá o primeiro passo, ou a continuar puramente o que já tinhas começado. - amém -
Habitue-se em habitar coisas que te fazem respirar.
Não crie o tipo de coragem para comprar um cadeado barato, a fim de que nada possa adentrar essa camada [im]permeável. Sinceramente? Não adianta.
Ninguém precisa de martírios.
  ... m a r   e m   l í r i o s ...
Não te esqueces, pois.
Não te enganes, pois.

Libélulas encantadoras sugerindo mais um pensamento atrasado: a dor que te cerca num piscar de olhos, pode ir embora da mesma maneira.
... só saiba o lugar certo que ande de mãos dadas com seu coração.

Liberdade!
Ainda que tardia.

 um bolo de laranja no forno, feito pela mãe mais linda do mundo :)

Que sejamos doce,

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Escorrego

"No osso da fala dos loucos têm lírios." (Manoel de Barros)
"Arco-íris no céu: está sorrindo o menino, que há pouco chorou." (Helena Kolody)

Desde criança ouviu falar da beleza que o céu trazia em dia nublado.
Depois de pingos, sol ameno.
Desenho semelhante a um escorrego, todo colorido, misturando suas cores favoritas.
Na medida em que os anos passavam, as pessoas não exaltavam tantos sorrisos que davam quando crianças, a respeito  do desenho colorido que surgia e planava no meio da imensidão.
Na verdade, elas cresciam e por algum motivo, escolhiam passar os dias de cabeça baixa ou alta demais. Quando não era a tristeza que impedia, era o orgulho que tomava conta ou a mente-estreita-sem-graça-de-gente-grande.
Vicissitudes que esqueciam das cores.
Maneira triste de se viver os dias, ou melhor, de observar o relógio mecanizar.
Mas elas nem se importavam, nem percebiam, nem nada.
A menina só podia responder por si, mas sabia que existia um monte de pensamentos viajantes por aí, de pessoas normais que nem ela, escrevendo sobre arco-íris ou qualquer coisa, e ficava feliz em saber que nunca estava sozinha.
Existia uma certeza dentro dela: a de que seu olhar manso e reluzente compartilhado com o arco-íris, foi algo que conquistou na infância e que a acompanharia sempre, onde quer que fosse.
Não queria se desprender.
Mais que um desejo, uma oração.
Ela sorria.
E sabia mais que nunca, que seu desenho colorido por entre as nuvens, vulgo arco-íris, não guardava um pote de ouro, mas sim, uma flor lilás. A sua flor lilás.
Pra onde ela levaria o ouro? Os lugares que sonhava nem sabiam o que era isso.
- monte de brilhos que o coração não entendia.. -
Mas o perfume da flor...ah...,era bálsamo, abrigo, companhia.
Esse foi o tesouro que ela escolheu,
Cuidar.

Cores, flores e tobogãs.
Pra nós.

. aproveite a graça do que é de graça .

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Céu, nosso céu

"Céu azul é telhado do mundo inteiro." (Teatro Mágico)

Abriu a gaveta e escolheu sua blusa branca com azul-celeste.
Não importava se estivesse amarrotada ou que fosse sair para canto nenhum, mas importava sim, as cores que ela mesma lhe presentearia no dia.
Seus pensamentos agradeciam pela maneira mais sutil que ela procurava apaziguar seu espírito.
Silenciosamente palavreando e roubando notas musicais nos ares, sempre acolhidas por seus ouvidos com tamanha gratidão.
Era a música rara ecoando por todos os lugares que ela mentalizasse...
Música rara, para almas raras.
Olhou pro céu da janela de seu quarto.
Um pergolado a impedia de vê-lo por completo, mas, o suficiente para que ela percebesse o cinza-nublado que estava lá.
Cinza igual a cor de suas unhas pintadas há dois dias.
Não importava a tonalidade.
Ela estava vendo o céu. 
Não importava nenhum mal pensamento que quisesse desviá-la do foco.
Ela estava vendo o céu.
Pouca gente entendia seus gestos, na verdade, todo o resto nem sabia o que era aquilo.
Porque esse "aquilo", carecia sensibilidade. Em extinção.
Esse infinito azulado sempre lhe deu as respostas que buscou.
Ele a trouxe de volta, e nina essa menina todas as noites.
As noites que às vezes metem medo e as noites que a fazem levitar.
Mas não importa, ela sempre via o céu.
Esse é o lugar dos seus sonhos.
Sempre conseguia ver nuvens fofas feito almofadas se misturando no azul-claro que Deus escolheu colorir.
Talvez seja esse o maior motivo que hoje a fez pegar em sua gaveta, dentre tantas blusas pretas, aquela amarrotada e já bastante usada, blusa branca com azul-celeste.

Empacota e joga fora essa dor.
Transforma em força.
Olha pro céu.
Aproveita o bom do amor.

 tiara vermelha nos cabelos
 um chá de maçã, ainda no armário
 "uma sensação boa de preguiça", como diz Helena
• um desejo de boa noite
 um desejo de bom amanhecer