terça-feira, 28 de junho de 2011

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"E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção." (Vinícius de Moraes)



Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca, porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado. E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim, no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo. E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro. E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.
E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.

(Vinícius de Moraes - Para uma menina com uma flor)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um lugar gigante


pés frios. cores opacas.

O banco de madeira fica aqui nesse jardim em todas as estações. Foi tão bem construído, tão bem firmado, que nenhuma ventania ou algum tipo de tempo, se atrevem a destruir ou envelhecê-lo. Tentam, mas o banco é forte. Tem dias que você o vê entre um olhar e outro, mas me entristece ao perceber que foram apenas olhares de relance, porque minha vontade era só sentar e conversar mais um pouco. Um pouco sem fim. Mas logo você partiu novamente. Nem me atreví em dizer tchau acenando com as mãos, porque você sabe bem, que elas têm outro sentido, e nem ficam bravas quando as apertamos com toda força do mundo. Foram feitas como acalento: "eu sempre vou estar aqui."
Quando é primavera e as cores saem tomando conta de tudo, o banco aproveita pra sorrir junto com as margaridas. Mas hoje (sem saber ao certo a estação), ele está vazio. Mas é só por hoje. Só às vezes. Vezes de colapsos temporais. Entenda, isso tudo é pra dizer que essa solidão não passa de impressão boba que nunca altera o belo inefável. Sei lá, o coração teimoso tendessascoisas. - Ágape é soberania -
Digo que é no silêncio que me encontro. Mas tem silêncio em algum canto impedindo o florescer desse jardim. Tem silêncio com espinho machucando nossas hands of light...
Mãos de quê? de Luz!
Sim, de luz.
Uma luz que não produz sombras.

Voa com as asas que escolheres, passarinho.
Mas lembre sempre de voltar sereno pra pousar no mesmo banco acolhedor.
E aninhar... essa Ninha.

v e r m e l h o  e  l i l á s ,
é sempre assim que acaba. (e começa um novo dia)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sobre ela



A menina de olhos castanhos amendoados e cabelos compridos, gosta de livros viajantes e grifa trechos das palavras que roubou para si; mexe os pés pra dormir e quando adormece, fica sonhando coisas bonitas porque pediu a Ele pra não ter pesadelos; troca uma balada pra assistir (de cobertor e três controles remotos ao alcance das mãos) o filme que, sem dúvida, lhe fará chorar, porque ela é uma verdadeira manteiga derretida; gosta de acordar cedo e caminhar até as pernas reclamarem; observa bastante os outros quando estão distraidos e canta sem voz aquele trecho de música que diz que é pra ter força e que a estrada vai além do que se vê; tem o lápis e o papel como amigos indispensáveis na  vida; adora tomar chá sem açúcar; não tem nenhuma rede social, porque num ataque de nervos resolveu fazer um teste de quem são seus amigos fora do computador; tem um passarinho azul chamado Leôncio, tão subliminar quanto as fotografias que gosta; procura pensar do seu jeito e faz coisas que alimente sua alma, e dentre tantas, a primeira delas é retribuir tudo com amor. Amor nas palavras, nos sorrisos, no que vê. Porque amar, é a tarefa mais linda e compensatória que Alguém lhe ensinou. Essa menina sorri, mas também cansa de falsas promessas.

uma queda.
mãos limpam os joelhos após levantar.
um passo, um passo, uma pausa.
outro passo novamente.

Que seja doce,

terça-feira, 14 de junho de 2011

Arbítrio



Que o olhar que se encanta com pequeninas coisas nunca me diga adeus. Que as notas musicais mais doces sejam absorvidas não só em audição, mas ecoadas por toda parte em mim (pulmões enchendo-se de ar curador...). Que eu não dê bola praqueles ignorantes, prodígios da superficialidade. Que eu tenha mansuetude para polvilhar um ambiente que careça calmaria (principalmente minha morada interior...). Que em todos os passos, eu tenha Deus como guia e o amor como remédio para qualquer mal.  Que as cores sejam sempre vivas, as maçãs sempre doces, os livros indispensáveis e os balões cheinhos de sopros genuínos. Que eu queira sol quando a tempestade desejar me envolver. Que meu sofrimento seja resignado. Que eu saiba que nunca estarei sozinha. Que o brilho que eu carregue não seja das roupas. Que a Lei de Talião não more em mim, porque eu sei que também erra aquele que revida. Que o egoísmo seja nada. Que mãos dadas seja tudo. Que a carência seja de coisas imperecíveis. Que a fé seja meu sustentáculo. Que a poesia se faça oração ,

"Mais uma vez Sofia tentava pensar por si mesma
 e não usar o que tinha aprendido com outras pessoas."
 (O Mundo de Sofia - página 53)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

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' eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
(...) caminho em frente por sentir vontade ..

eu quis te convencer mas chega de insistir
caberá ao nosso amor o que há de vir
(...) caminho em frente pra sentir saudade ..

                                                       (...) . clipes e
                                                                      lápis de cor
                                                                             na minha cama . '

(Janta - Marcelo Camelo)
recomendo:
para satisfazer o coração com os olhos e desfazer as amarras do preconceito, taí o curta-metragem: "Não quero voltar sozinho".
para alegrar os ouvidos com música rara: "Janta", de Marcelo Camelo. (trilha sonora do curta).

bons pensamentos :*

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Fluir


Eu quis não sentir. Eu quis não importar.
Desejei um abrigo fora, mas nenhum dos tais me agradaram; tampouco me acolheram como eu (ilusoriamente) pensei.
Quis tanta coisa por um breve minuto e demolí tudo depois de um respirar mais profundo...consciente.
Parte do que eu vejo não está (definitivamente) em comunhão com o que preciso. Taí uma explicação cabível.
É bela e gentil a aproximação de duas ou mais partes, por simples vontade do espírito.
É feio e repelível aquele "estar alí" por puro comodismo, conveniência ou pressão.
Comunhão fiel e incansável é aquela que quando olho pro céu, reflete todos os meus sonhos e os acolhe sem nenhum esforço... Tudo f l u i, como tem que ser.
Seres humanóides às vezes me cansam, deveras.
Quero é me esquivar de imposições e dizer sim, para aquilo que vem por vontade própria.
Por simplesmente querer ficar.
Por não carecer de explicações a outrem.
Não se engane:  o "outrem" não sabe um terço do que realmente te faz respirar.

*Caladinha, sentindo cheiro de livro novo e despedindo de tudo o que me atrasa.
Porque só eu sei do peso de cada carga em minhas costas.

Hoje quando procurei um abrigo, um bloco de papel sorriu pra mim.

"Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas me convém.
Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas me edificam."
 (l Coríntios, 10:23)

sábado, 4 de junho de 2011

E seguiu



Viu que as asas estavam machucadas, mas quis voar mesmo assim.
Colocou remédio nas feridas e seguiu.
Aprendeu que, para voar da maneira que ela desejava todos os dias,
só bastava ter asas do lado de dentro.
E nem se importou mais com aquelas feridas bobas nas asas de mentirinha.
Agora que ela tinha o band-aid certo, simplificou tudo e foi conhecer o mundo que havia dentro de sí.
Voando...como sempre quis.

um fim de semana cheio de luz e um beijo de boa noite :)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

o'clock


Naquele dia somente os afagos sobreviveram.
[sem artifícios, assim eu pensei].
E como para tudo o que anoitece, lá vem o sol devolver porções de luz em potes transparentes ..
Só basta você consentir ou não.

"Tudo tem o seu tempo determinado,
 e há tempo para todo o propósito debaixo do céu." (Ecl 3:1)